25 de fev. de 2012

Clara era uma criança linda. Realmente.
Adorava comer banana amassada, beber leite morno na mamadeira, odiava ficar sozinha, não suportava roupas, era extremamente curiosa e precisava de duas babás, uma avó, um pai e uma mãe pra dar conta dela.
Completamente feliz. Até entrar no famoso ensino fundamental.
Clara começou a ganhar uns quilinhos a mais, precisou de óculos, era super inteligente, a melhor aluna da sala. E junto com tudo, de “brinde”, veio o bullying.
Com o tempo, ela não começou a se afastar das pessoas que sempre lhe humilhavam, e se aproximou das que lhe davam proteção e amor.
Quando entrou no, para alguns, melhor do ensino fundamental (nono ano), as coisas fugiram do controle. As chacotas aumentaram, a humilhação se tornou intensa, e ninguém se importava realmente com ela, afinal, era “ninguém”.
Clara não agüentava mais aquela vida. Chegou uma hora, que nem ela mesma sabia o que fazer. A dor interior era tanta, que era até insuportável. Mas, ela achou uma solução: enquanto depilava sua perna e pensava em tudo o que estava acontecendo se cortou de leve, mas a ardência era tanta, que ela não estava sentindo dor nenhuma em seu coração. Chegou a uma conclusão. Substituição.
A partir daquele dia, toda vez que sentia dor no coração, ela pegava o “bisturi” da gaveta de calcinhas de sua mãe e se cortava. Mas não no pulso, é visível e clichê! Cortava as coxas, barriga. Deixava suas unhas compridas, assim poderia se arranhar, e o resultado seria o esperado.
Mas com o tempo, os cortes e os arranhões não eram suficientes. E as dores no peito se tornaram mais intensas. E foi nesse dia que Clara pegou uma caixa de remédios escondido. Pegou comprimidos de todas as formas, cores e tamanhos que conseguiu encontrar. Pegou uma garrafa de vodka de seu pai, colocou um pouco em um copo, misturou um pouco de suco e engoliu tudo na esperança de ser o mais rápido e menos dolorido possível.
Errada.
Sua vida passou em um filme que parecia eterno. Momentos bons, ruins. Sua família, amigos, sonhos, todos estavam passando numa velocidade extrema, que dava uma sensação única de desespero. Tudo o que ela estava deixando pra trás.
Dor. Dor. Mais dor. Queria gritar por socorro, mas sua voz não saia, parecia que tinha uma bola em sua garganta que a impedia de soltar qualquer som oral. Queria se mexer, mas seu corpo parecia que estava paralisado. A única coisa que sentia era dor.
Desespero. Quando tinha certeza que não teria mais chance nenhuma, desistiu.
O sono profundo. Profundo? Nunca se iluda.
Fogo. Tudo queimava. Parecia que estava num forno a lenha, ligado. Não conseguia gritar, se mover, e tinha desistido de tentar.
Mas uma voz em sua mente dizia pra lutar! Serena, calma, suave.
Clara disparou em uma luta incessante contra a morte e, aos poucos, a queimação foi cessando, a respiração se estabilizando, e estava retomando a consciência.
Quando se deu conta, estava deitada no chão, com fortes dores no corpo, devido á reação dos medicamentos. Levantou vagarosamente, pegou seu telefone celular, e ligou pra sua melhor amiga, a fim de pedir ajuda que não demorou a chegar.
No meio de carinhos, abraços, colo e conforto, Clara percebeu que não estava sozinha. Mesmo que a maioria dos seres humanos a sua volta tenham lhe feito mal, tinha uma pessoa que realmente lutava por ela e vice versa.
Claro que nunca mais foi a mesma, afinal, ninguém melhora de uma hora para a outra. Mas aos poucos, percebeu que a vida vale toda a luta e que, no final, tudo ficará bem.

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